
A representatividade feminina na indústria brasileira tem evoluído ao longo dos anos, impulsionada por diversas conquistas sociais e pelo crescente protagonismo das mulheres em diferentes setores da sociedade. De acordo com dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), as mulheres representam cerca de 24,2% da força de trabalho no setor industrial brasileiro, um avanço significativo que reflete a luta por mais igualdade e equidade de oportunidades e reconhecimento profissional.
Esse progresso também se reflete na presença feminina em cargos de liderança, embora ainda haja desafios a serem superados. De acordo com dados do IBGE de 2024, a participação das mulheres varia bastante entre setores. No mercado de Informação e Comunicação, elas ocupam 29,7% dos cargos gerenciais. Já no setor de Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas, elas assumem a liderança, representando 53,9% desses postos. Na indústria, esse número chega a 31%.
A indústria também vem acelerando a inclusão feminina na gestão. Segundo o Observatório Nacional da Indústria, entre 2008 e 2021, a presença de mulheres em cargos de liderança no setor industrial — especialmente entre operadores de instalações, máquinas e montadores — saltou de 24% para 31,8%.
Mas a equação ainda não fecha quando se fala de salários. A disparidade de gênero nos rendimentos de diretores e gerentes no Brasil é de 26,1%. Na indústria, essa diferença sobe para 26,9%, e entre profissionais das ciências e intelectuais, o gap salarial chega a 36,7%.
Apesar disso, o futuro promete avanços. Um estudo da Gi Group Holding (2023) revelou que 58% das empresas acreditam que, nos próximos cinco anos, as mulheres terão mais oportunidades nas operações do setor de produção. E o Brasil está liderando essa mudança: é o país com o maior número de empresas confiantes na ascensão feminina dentro da indústria.
Mulheres na Manufatura
Por muito tempo, a indústria foi vista como um ambiente dominado por homens. Mas uma análise mais atenta revela algo diferente: as mulheres sempre estiveram lá, impulsionando transformações e quebrando barreiras. Desde a Revolução Industrial até os dias de hoje, elas tiveram um papel essencial na evolução do setor.
Mesmo que muitos nomes tenham ficado fora dos registros, suas contribuições são inegáveis. Nos séculos XIX e XX, as fábricas têxteis lideravam a revolução industrial, e as mulheres eram a base dessa operação — em muitos casos em condições precárias e com salários desiguais. Ainda assim, foram protagonistas na produção em massa que acelerou a economia global (CRTRJ).
Além de colocar a mão na massa, essas mulheres também foram à luta por direitos trabalhistas. Movimentos liderados por visionárias como Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo impulsionaram mudanças reais, abrindo caminho para igualdade salarial, melhores condições de trabalho e mais oportunidades na indústria.
Mas o impacto feminino na indústria vai além do setor têxtil. Luigia Carolina Zanrosso Eberle, conhecida como Gigia Bandera, foi pioneira na metalurgia e a primeira mulher a atuar como empresária no ramo de funilaria. Sua visão empreendedora levou à fundação da Metalúrgica Abramo Eberle, que se tornou uma das maiores empresas do setor no Brasil. Seu legado é tão ressoante que o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas criou o Troféu Mérito Metalúrgico Gigia Bandera, reconhecendo personalidades que se destacam na área.
Hoje, o cenário está mudando, mas a missão continua: garantir que o impacto feminino na indústria seja reconhecido, valorizado e ampliado. Um estudo da Deloitte (2025) revela que as mulheres que atuam no setor de manufatura se sentem subrepresentadas. Para atrair mais mulheres para esse mercado, as fábricas precisarão reformular suas estratégias de recrutamento, retenção e desenvolvimento profissional.

Atuação Hoje em Indústrias de Manufatura
“Em um cenário de indústria 4.0, a presença feminina nas tomadas de decisão é vital, pois oferece uma perspectiva diversa, contribuindo para soluções mais completas e eficazes, especialmente quando falamos de produtividade em larga escala.”
Essa foi a mensagem de Renate Fuchs, Diretora-Executiva da Industry X, durante o Fórum RADAR Reinvenção. Na ocasião, ela apresentou o Programa Industry4Her, uma iniciativa voltada à capacitação de mulheres para cargos de liderança no setor, reforçando a importância da inclusão feminina para a inovação e o avanço da indústria. Além de Renate, outras mulheres são referências de liderança na manufatura:
Daniela Menique é a Presidente da ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química) e ocupa o cargo de Presidente para a América Latina do Grupo Solvay. Sua carreira é marcada por posições de liderança em empresas químicas globais, destacando-se pela promoção de inovações sustentáveis e estratégias de crescimento na região latino-americana.
Liliana Aufiero é a Presidente da Lupo, uma das principais empresas do setor têxtil brasileiro, conhecida por sua produção de meias e roupas íntimas. Sob sua liderança, a Lupo tem investido em modernização de processos e expansão de mercado, consolidando sua posição no mercado nacional e internacional.
Vânia Nogueira de Alcantara Machado
Vânia Nogueira de Alcantara Machado é a Presidente do Laboratório Aché, uma das maiores empresas farmacêuticas do Brasil. Ela tem sido fundamental na expansão do portfólio da empresa e na implementação de práticas de gestão que enfatizam a qualidade e a inovação no setor farmacêutico.
Juliana Grizzi é a Diretora da Cadeia de Suprimentos da Cargill no Brasil. Com uma sólida formação em logística e gestão de cadeias de suprimentos, ela tem liderado iniciativas para aprimorar a eficiência operacional e a sustentabilidade nos processos logísticos da empresa no país.
Rejane Souza é a Vice-Presidente Global de Inovação da Yara Brasil Fertilizantes. Ela desempenha um papel crucial no desenvolvimento de soluções inovadoras para a agricultura, visando aumentar a produtividade e a sustentabilidade no uso de fertilizantes.
Nathalie De Gouveia é a CEO da Wella Company no Brasil. Com ampla experiência no setor de cosméticos, ela tem liderado a empresa na introdução de novos produtos e estratégias de marketing, reforçando a presença da Wella no mercado brasileiro.
Mulheres no campo da Ciência de Dados
Nos últimos anos, o Brasil tem experimentado um crescimento significativo na participação das mulheres na produção científica. Entre 2008 e 2012, elas foram responsáveis por quase 70% das publicações científicas (IPEA, 2020), o que coloca o país como um dos maiores em termos de representatividade feminina nesse campo. Esse número reflete a importância crescente das mulheres na pesquisa e inovação, apesar de desafios contínuos para garantir sua visibilidade nas posições de liderança.
Ao longo das duas últimas décadas, a participação feminina nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) avançou de 35% em 2002 para 45% em 2022, o que representa um crescimento notável de 29% (CNN Brasil, 2024). Esse aumento evidencia que mais mulheres estão ocupando espaços nessas áreas de alta complexidade. No entanto, à medida que a carreira avança, a presença feminina diminui, especialmente nas posições de destaque, o que indica que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a igualdade de oportunidades no topo da carreira acadêmica.
No cenário brasileiro, algumas mulheres têm se destacado como pioneiras e líderes no campo da ciência. Sônia Barbosa, por exemplo, é referência nacional em Inteligência Artificial (IA), sendo uma das primeiras a pesquisar e aplicar IA no país. Claudia Bauzer Medeiros, uma das principais especialistas em ciência da computação no Brasil, contribui com pesquisas essenciais na área de gestão e análise de grandes volumes de dados. Já Monalisa Cristina Moura dos Santos, doutoranda pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tem sua formação acadêmica voltada para projetos ligados a modelos de Inteligência Artificial de baixo custo e confiabilidade de sistemas, com foco na indústria. Sua atuação é um exemplo da importância da presença feminina na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o setor industrial, consolidando seu papel como uma líder no avanço científico e tecnológico no Brasil.
Apesar de o crescimento ser claro, a disparidade de gênero permanece, especialmente em cargos de liderança e em áreas mais prestigiadas da ciência. Para promover um ambiente científico mais inclusivo e igualitário, é necessário investir em políticas que incentivem e apoiem as mulheres não apenas a ingressar no campo científico, mas também a avançar e ocupar posições de destaque. O futuro da ciência no Brasil depende do engajamento de todos para garantir que as mulheres não só tenham espaço, mas que também possam brilhar em todo o seu potencial.
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