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Entrevista

Rodrigo Portes: O Futuro da Indústria Brasileira

30 de agosto 7 min. de leitura

interview Rodrigo Portes

Rodrigo Portes

No cenário industrial atual, a capacidade de adaptação e inovação é um diferencial importante para empresas que desejam se manter competitivas. A aplicação de tecnologias avançadas e o uso estratégico de dados têm transformado o setor, proporcionando ganhos em eficiência, redução de custos e melhorias na experiência do cliente.

Para discutir esses avanços e o papel da ciência de dados na transformação industrial, conversamos com Rodrigo Portes, executivo com mais de 26 anos de experiência em posições de liderança no setor industrial. Palestrante, mentor e consultor de vendas B2B e Indústria 4.0, Portes compartilha suas perspectivas sobre o panorama atual das indústrias brasileiras e os desafios e oportunidades que elas enfrentam na adoção de novas tecnologias.

O executivo passou por empresas multinacionais como Rockwell Automation, Siemens e GE, e tem uma visão abrangente das necessidades e tendências do setor industrial. E discute as barreiras culturais, os setores mais receptivos à inovação e a evolução esperada para a aplicação da ciência de dados nas indústrias brasileiras nos próximos anos.

 

  1. Na sua visão, como está o panorama atual de investimentos em tecnologias no setor industrial? Quais tendências você destacaria?

O panorama atual de investimentos em tecnologias no setor industrial é marcado por uma crescente conscientização sobre a importância da digitalização e da automação, com a Indústria 4.0 sendo um dos principais impulsionadores dessa transformação. No entanto, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos nesse campo, com apenas uma pequena fração das empresas efetivamente adotando essas tecnologias avançadas.

Segundo pesquisa da CNI – “Indústria 4.0: novo desafio para a indústria brasileira”, as tecnologias da indústria 4.0 ainda são pouco conhecidas pelas PMEs brasileiras. 57% das pequenas empresas afirmaram desconhecer tais tecnologias. Vejo como principais tendências (e necessidade de sobrevivência) a utilização cada vez maior das principais tecnologias habilitadoras como IoT, Big Data, Cloud, RA e RV, IA e Machine Learning e Digital Twins, dentre outras.

 

  1. Você tem percebido algum tipo de resistência por parte das indústrias na adoção de novas tecnologias? Quais seriam as principais barreiras?

Segundo a pesquisa “Sondagem Especial Indústria 4.0: Cinco Anos Depois da CNI de 2022”, respondida por mais de 1.900 executivos e empreendedores de pequenas, médias e grandes empresas os principais obstáculos para a adoção de tecnologias ligadas à indústria 4.0 foram: altos custos de implementação (66%), estrutura e cultura da empresa (26%), falta de clareza sobre o retorno de investimento (25%), falta de conhecimento técnico (25%), dificuldade para integrar novas tecnologias e softwares (18%).

A meu ver, o principal, obstáculo para o avanço não são os altos custos, pois como sabemos os preços das tecnologias vem caindo vertiginosamente nos últimos anos. Acredito que a questão cultural e o medo da mudança, especialmente por parte do Top Management das indústrias, continue sendo a principal barreira. Daí a importância de desmistificarmos a tecnologia junto a grande maioria das empresas do país. Esse tem sido um dos meus propósitos como consultor nos últimos anos e por isso criei a palestra “Desmistificando a Indústria 4.0” justamente com esse objetivo.

 

  1. Quais setores você acredita que estão mais ávidos por inovações tecnológicas e por quê?

Aqui no Brasil, fundamentalmente, grandes empresas e multinacionais de alguns setores específicos como automotivo, alimentos e bebidas, farmacêutico, químico, mineração e metais têm investido e demonstrado maior apetite por inovações, projetos e tecnologias ligadas à indústria 4.0 devido à pressão por eficiência, redução de custos, competitividade e, claro, a sustentabilidade (ESG). Temos diversos bons exemplos e casos de sucesso, inclusive em empresas nacionais, destes segmentos.

 

  1. Na sua experiência, quais fatores têm sido decisivos para que as indústrias decidam investir em novas tecnologias?

Há muitos benefícios na implantação destas novas tecnologias. Não só no chão de fábrica, mas também em melhorias ligadas a vendas, novos produtos e serviços e experiência do cliente. Alguns deles são:

  • Custo: redução direta nas despesas operacionais.
  • Competitividade: manter ou conquistar liderança no mercado.
  • Eficiência: melhor aproveitamento de recursos e tempo.
  • Segurança: proteção contra falhas e ameaças operacionais (Cyber segurança).
  • Otimização: refinamento de processos para máxima produtividade.
  • Erros: diminuição de falhas e retrabalhos.
  • Experiência do Cliente: melhoria na interação e satisfação do cliente.
  • Sustentabilidade (ESG): alinhar-se a práticas mais verdes e regulatórias.

 

  1. Você observa uma grande disparidade na maturidade tecnológica entre os setores industriais no Brasil, ou essa variação está mais relacionada ao tamanho das empresas?

A disparidade na maturidade tecnológica no Brasil é mais evidente entre empresas de diferentes tamanhos do que entre setores. Grandes empresas tendem a estar mais avançadas em sua jornada de digitalização, enquanto pequenas e médias empresas ainda lutam para adotar tecnologias básicas com Lean Manufacturing, ERP, SCADA, MES, dentre outras.

Costumo dizer que quando se trata da maturidade e estágios da indústria 4.0, encontramos normalmente vários “Brasis” dentro do Brasil. Há indústrias de maior porte, como citado na pergunta 3, que já estão com um alto nível de maturidade e aplicação das novas tecnologias da indústria 4.0, porém a esmagadora maioria (PMEs) ainda não fazem uso destas tecnologias e muitas nem as conhece. Porém, olhando o “copo meio cheio”, vejo isso como uma enorme oportunidade para empresas e startups como a ST-One, por exemplo.

ST-One

Copyright: ST-One

  1. Entre as indústrias que já alcançaram um alto nível de maturidade, que inovações elas estão buscando agora para se manterem competitivas?

Indústrias com alto nível de maturidade em Indústria 4.0 estão agora focadas em inovações que vão além da automação e conectividade básicas. Elas estão investindo em inteligência artificial avançada, incluindo IA generativa, para otimizar processos preditivos e análises de big data em tempo real.

O metaverso industrial é outra área de interesse, permitindo simulações e colaborações em ambientes virtuais altamente realistas. Além disso, estão explorando o uso de gêmeos digitais para simular e otimizar operações complexas.

A sustentabilidade é uma prioridade crescente, com muitas dessas indústrias já discutindo conceitos de Indústria 5.0, que integra tecnologias avançadas com um foco humanizado e sustentável, promovendo processos mais verdes e o uso de energias renováveis.

 

  1. Em qual aspecto dentro de um setor industrial, como o uso de matérias-primas ou a eficiência das linhas produtivas, você percebe um aumento significativo nos investimentos em inovação?

Observo um aumento significativo nos investimentos voltados para a eficiência dos processos fabris e linhas produtivas, na redução do consumo de energia e programas cada vez mais voltados para o ESG, ou seja, a Neoindustrialização.

 

  1. De que maneira você acredita que a ciência de dados pode impulsionar a inovação em diferentes setores da indústria?

Principalmente trazendo e captando grandes volumes de dados (Big Data) para insights e tomada de decisão. No chão de fábrica, ela melhora a eficiência operacional através de análises preditivas, reduzindo tempo de inatividade, predizendo falhas e eliminando erros e desperdícios.

Como profissional da área de vendas industriais, enfatizo também a importância da ciência de dados para o “top line” das empresas, ou seja, a área de vendas. Ela permite, dentre outras coisas, a oferta de soluções customizadas para clientes, novos modelos de negócios, novos produtos e serviços, além de uma experiência diferenciada para o cliente.

 

  1. Como você imagina que a aplicação de ciência de dados nas indústrias brasileiras evoluirá nos próximos 5 e 10 anos? Quais transformações você prevê?

Minha expectativa para a aplicação da ciência de dados nas indústrias brasileiras é de uma evolução significativa nos próximos 5 e 10 anos. Especialmente no Brasil, a previsão é de que as receitas com a Indústria 4.0 mais que dobrem nesse período, com um CAGR aproximado de 23% ao ano, conforme dados de uma pesquisa recente do IMARC.

O Brasil vem sofrendo um severo e precoce processo de desindustrialização nos últimos anos. A indústria de transformação, que já representou 35% do PIB nos anos 80, fechou o ano de 2023 com apenas 11% de participação no PIB.

Neste cenário sombrio, a Indústria 4.0, a inovação e a tecnologia são alguns dos antídotos essenciais para reverter esse quadro e revitalizar o setor industrial no país.

 

Rodrigo Portes trabalhou como executivo por mais de 26 anos em posições de liderança na área comercial em renomadas empresas multinacionais do setor industrial, como Rockwell Automation, Siemens, Parker Hannifin, GE e IMI Norgren. Atualmente é palestrante, mentor e consultor de vendas B2B industriais e indústria 4.0. É autor de ebooks sobre Vendas B2B, Vendas Digitais e Indústria 4.0. Atua junto à Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (ABIMAQ) e Equipamentos do Brasil há mais de 15 anos, sendo Membro do Conimaq desde 2014. Também escreve colunas sobre indústria 4.0 para a StartSe, Portal BR-40 e Revista Ferramenta.

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