De gota em gota: como encontrar e medir o indicador de consumo de água na indústria
Acompanhar indicadores de forma contínua é essencial para evitar que grandes problemas passem despercebidos, além de possibilitar a busca pela otimização de performance. Essa lição se aplica a qualquer área de uma empresa e, levando isso em conta, o objetivo deste artigo é abordar especificamente a criação e a análise de um parâmetro característico de uso de recursos hídricos dentro de uma indústria. Nesse caso, será explorado o ramo de bebidas, porém com uma abordagem pode ser utilizada em qualquer tipo de ambiente de produção.
Em uma indústria de bebidas, um dos principais indicadores de otimização de uso de água é o litro por litro (L/L):
Eficiência=〖Litros 〗_(água captada)/〖Litros 〗_(produto final)
Como a fórmula implica na quantidade de água utilizada por litro de bebida produzida, ela permite avaliar a eficiência do processo de produção, identificar oportunidades de otimização e economia e facilitar a comparação entre lotes e produtos.
Porém, calcular esse indicador nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando se deseja um acompanhamento diário. Fatores como caixas d’agua, estações de tratamento e picos de produção geralmente trazem uma complexidade para o processo de cálculo que requer um levantamento técnico bastante detalhado. Isso é feito a fim de evitar a geração de informações incorretas que podem acarretar tomadas de decisão erradas. Além disso – de acordo com a CNI (Conselho Nacional da Indústria), no material “Uso da água no setor industrial brasileiro” -, outro fator que ressalta essa dificuldade é a limitada disponibilidade de dados sobre o uso da água no setor industrial, que constitui obstáculo para a efetiva caracterização das indústrias em termos de consumo desse recurso (FERES et al., 2005).
Passo a passo para fazer o levantamento do indicativo correto
Para fazer o levantamento da trajetória hídrica na indústria, a primeira etapa é montar um mapa completo indicando onde a água pode passar na planta. Isso é feito com o objetivo de estabelecer os pontos de medição ideal para um indicador de qualidade. A seguir, será explorado como esse processo acontece em uma fábrica com 5 linhas de produção, sendo 3 delas de refrigerante e 2 de água.
- Passo 1 – Mapeando o caminho da água:Antes de implementar uma sistemática de medição é necessário mapear o caminho completo da água por dentro dos sistemas de uma fábrica. Isso é importante pois pode haver pontos de recirculação, por onde a mesma água pode passar várias vezes. A etapa de levantamento requer uma avaliação in-loco, com um panorama completo.
Legenda: Visão geral de um sistema de captação de água
- Passo 2 – Definir os locais de mediçãoApós realizado o mapa completo da planta é necessário definir qual será o nível de detalhe dos indicadores a serem calculados. É possível por exemplo dividir uma planta em 4 níveis:
- Planta
- Área (Ex: Utilidades, Processo, Envase)
- Área funcional (Caldeiras, Enchedora, Chiller)
- Máquina (Enchedora 1, Caldeira 1, Caldeira 2)
Expressando essa divisão de níveis de forma gráfica, e utilizando alguns dados de exemplo, temos o seguinte arranjo:
- Passo 3 – Definir a sistemática de cálculo:Quanto maior o nível de detalhe, mais necessário se faz a implantação de um sistema automático de coleta de dados e a instalação de medidores digitais. Esse fato se explica, pois, ao realizar esse tipo de coleta de forma manual, além de ser suscetível a erros e ter pouca resolução, pode não oferecer a resolução necessária para definir, por exemplo, qual a receita ou SKU que possui a melhor performance.
O que fazer após encontrar o indicador
Para gerar bons resultados e mais economia de água, o ideal é criar uma rotina de acompanhamento dos indicadores encontrados. Após identificar os principais pontos de consumo, as etapas e equipamentos envolvidos no processo produtivo, é preciso definir metas de economia e indicadores-chave. Sobre esse último, é possível citar como exemplo o litro por litro.
O próximo passo é definir bem os procedimentos, tal como descrever como será feito o monitoramento desse recurso. Além disso, é preciso definir qual será a frequência das medições e quem será o responsável pela checagem dos dashboards.
Dessa maneira, partindo de uma frequência determinada de monitoramento, é possível realizar uma análise assertiva do uso da água nas indústrias, e realizar ações corretivas. Utilizando os dados coletados, pode ser feito a identificação de tendências, reconhecimento de picos de consumo e de áreas de oportunidade com potencial para desenvolvimento.
É essencial, após fazer o levantamento dos indicadores e implementar a rotina de medição desses, fazer uma gestão estratégia acerca dos números descobertos. Dessa maneira, é possível estabelecer um uso racional dos recursos hídricos, diminuir custos e identificar pontos de atenção para redução de desperdícios.
Como o processo tem fluido
Recentemente, a redefinição de estratégias de utilização hídrica vem ocupando um lugar de destaque nas indústrias. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), na matéria “Melhor uso dos recursos naturais e geração de valor”, 76,4% das indústrias brasileiras já utilizam alguma estratégia de economia sustentável. Essas ações são indispensáveis para aumentar a vida útil das riquezas naturais, promover inovação e competitividade no setor privado, tal como estimular a conscientização na sociedade.
Essa conscientização partiu do fato que a água utilizada para consumo e produção, mesmo sendo essencial para o desenvolvimento de diversas atividades econômicas, não é infinita. Dentro desse cenário, fazer uso de tecnologias e Soluções disruptivas garante uma maior longevidade de recursos e causa um impacto positivo na sociedade.
Por fim, é necessário reforçar a importância dessa e de outras ações visando mais sustentabilidade no processo produtivo. Apesar de a rotina de monitoramento dos recursos hídricos cumprir um papel indispensável, ainda há espaço para a indústria avançar mais um patamar em produtividade.